Vigilantes que afirmam trabalhar no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior do Trabalho (TST) foram alvo de um "trote" no último sábado (8/02) enquanto passavam por um curso obrigatório de reciclagem em uma academia em Ceilândia, no Distrito Federal.
A confusão foi registrada em vídeo (assista no site do Sinttrav). Os trabalhadores afirmam que, enquanto faziam uma prova, foram trancados em uma sala onde haviam sido detonadas bombas de gás lacrimogêneo. Eles também teriam sido impedidos de sair do local por instrutores e colegas de outros cursos.
Alguns participantes ficaram feridos. Um deles também teve um tablet quebrado durante a ação. Uma ocorrência foi registrada por um dos vigilantes na 6ª Delegacia de Polícia, no Paranoá. O sindicato da categoria afirma que vai prestar queixa na Polícia Federal.
A escola de formação Peritus, onde o curso ocorreu, disse que não havia funcionários envolvidos no "trote". Um gerente da empresa informou à TV Globo que a "ideia de ataque foi de alunos de outras turmas" e que, após analisar as câmeras do circuito interno de segurança, a escola vai denunciar o responsável por dispersar gás lacrimogêneo. O STF disse que nenhuma das companhias presta serviço para o tribunal.
Já o TST confirmou o contrato com a Multiserv e disse que, apesar de o treinamento ser obrigatório, não participa da escolha da academia onde ele deve ser realizado. O tribunal afirmou ainda que pediu esclarecimentos à empresa sobre o caso.

Gás lacrimogêneo

O vídeo gravado por um dos trabalhadores mostra parte da confusão. Nas imagens, um grupo de pessoas aparece dentro da sala onde estava sendo aplicada a prova, logo após o lançamento de bombas de gás lacrimogêneo.
Algumas pessoas estavam tossindo e era possível ver fumaça no local. Em determinado momento, a porta da sala se abriu e os vigilantes conseguiram sair. Instrutores ainda teriam tentado impedir o grupo de sair do local usando cassetetes e escudos, mas os trabalhadores reagiram e conseguiram se libertar.
Um dos vigilantes que estava no local e não quer se identificar conta o que teria ocorrido. "Primeiro, houve um treinamento de prática de armamento e depois a prova escrita de todo o curso. Um grupo de outros cursos, junto com os professores, jogaram bombas de gás lacrimogênio dentro da sala e trancaram a porta", afirma.
O homem diz que houve uma briga até que a porta da rua fosse aberta. "A academia não deu estrutura, não tinha ventilação, não tinha porta de emergência e a gente sujeito a uma situação extrema dessas."
O vigilante afirma ainda que teve ferimentos no cotovelo e dor de cabeça por conta do gás, além de prejuízos financeiros após a ação.

"Eu sou segurança desde 1999 e nunca passei por isso. Na confusão, o meu tablet quebrou e até agora ninguém me atendeu. Foi muito humilhante para a gente."

Sindicato vai prestar queixa

Segundo o diretor de comunicação e imprensa do Sindicato dos Vigilantes do DF, Gilmar Rodrigues, a entidade pretende apresentar uma queixa contra a academia junto à Polícia Federal.
"O sindicato vai até a Delegacia de Controle de Segurança Privada (DESP) para que haja providências com a academia e os instrutores que causaram a confusão de Sábado", afirma.
Gilmar afirma que os vigilantes que faziam o curso atuam na segurança pessoal dos ministros dos tribunais superiores e que a "brincadeira" não faz parte das atividades previstas nas aulas.

O que diz o TST

Veja íntegra da nota do TST sobre o episódio:
"O Tribunal Superior do Trabalho mantém contrato de prestação de serviço de segurança pessoal privada com a empresa Multserv Segurança e Vigilância Patrimonial Ltda., cuja categoria profissional por força da Portaria do Departamento de Polícia Federal nº 3233, de 10 de dezembro de 2012 , deve realizar treinamento de reciclagem a cada 02 anos.

A contratação de academia credenciada pela Polícia Federal para realização do treinamento é de inteira responsabilidade da empresa contratada, cabendo ao Tribunal verificar se foi cumprido o conteúdo programático exigido no Anexo VIII da Portaria do Departamento de Polícia Federal nº 3233, de 10 de dezembro de 2012.

A empresa Multserv Segurança e Vigilância Patrimonial Ltda. foi notificada para apresentar esclarecimentos sobre os incidentes ocorridos durante a realização do curso de sua inteira responsabilidade, para que a Administração possa definir os procedimentos e penalidades contratuais cabíveis." Reportagem: G1