A disparidade entre os lucros obtidos pelos grandes bancos do Brasil e os salários pagos aos seus principais executivos e membros de conselhos de administração é, no mínimo, de “cair o queixo”.

 Em 2024, os quatro maiores bancos do país, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander Brasil e Banco do Brasil, destinaram cerca de R$ 1,99 bilhão para remunerar 248 pessoas, que são as peças-chave responsáveis por tomar as decisões estratégicas e conduzir o rumo dessas instituições. Esses números chamam a atenção não apenas pelo montante, mas pela magnitude das somas envolvidas.

Em um estudo recente, ficou claro que a remuneração destinada aos altos executivos dos bancos será de um valor recorde em 2025, com estimativas apontando para um aumento de 16,8%, o que pode ultrapassar a marca dos R$ 2,33 bilhões.

Esses valores incluem salários, bônus e benefícios que, em muitos casos, são pagos em ações e estão sujeitos a variáveis como metas de desempenho e períodos de carência (vesting), criando uma estrutura de incentivo e retenção para os líderes das instituições.

Como se divide a remuneração?

Cada banco adota uma estrutura de pagamento diferente, mas em todos os casos, a combinação de salários fixos, bônus variáveis e benefícios está no centro da estratégia de atração e retenção de talento. Vamos dar uma olhada em como isso se desdobrou em 2024 e como está projetado para 2025:

Itaú Unibanco 

  • Lucro em 2024: R$ 41,4 bilhões
  • Total pago à alta administração em 2024: R$ 697,8 milhões
  • Estimativa para 2025: R$ 812 milhões (aumento de 16,4%)
  • Diretores (36 membros): R$ 650,2 milhões
  • Conselho de Administração (13 membros): R$ 47,6 milhões

O Itaú Unibanco, o maior banco privado da América Latina, tem uma estrutura robusta de pagamento. Seus diretores recebem uma combinação de bônus em dinheiro, pacotes de ações com vesting de 3 a 5 anos e outras compensações. O banco adota também o mecanismo de “clawback”, que permite reduzir ou até reaver bônus, caso a instituição enfrente prejuízos futuros.

Bradesco 

  • Lucro em 2024: R$ 19,5 bilhões
  • Total pago à alta administração em 2024: R$ 755,8 milhões
  • Estimativa para 2025: R$ 790,6 milhões (aumento de 4,6%)
  • Diretores (88 membros): R$ 695 milhões
  • Conselho de Administração (11 membros): R$ 60,8 milhões

O modelo de pagamento do Bradesco inclui bônus semestrais, com metade dos valores pagos em dinheiro e a outra metade em ações, com restrições de venda por três anos. Além disso, os conselheiros também recebem bônus, e o banco tem um plano de previdência robusto para os seus executivos.

Santander Brasil

  • Lucro em 2024: R$ 13,8 bilhões
  • Total pago à alta administração em 2024: R$ 485,2 milhões
  • Estimativa para 2025: R$ 637,7 milhões (aumento de 31,4%)
  • Diretores (52 membros): R$ 472 milhões
  • Conselho de Administração (9 membros): R$ 13,2 milhões

O Santander Brasil possui um sistema de remuneração variável, no qual os diretores recebem bônus em dinheiro, ações com lock-up e parcelas diferidas por até quatro anos. No caso dos conselheiros, sua remuneração é fixa, sem vínculos com metas de desempenho.

Banco do Brasil

  • Lucro em 2024: R$ 37,9 bilhões
  • Total pago à alta administração em 2024: R$ 58,9 milhões
  • Estimativa para 2025: R$ 93,8 milhões (aumento de 59,4%)
  • Diretores (38 membros): R$ 57,7 milhões
  • Conselho de Administração (3 membros): R$ 1,1 milhão

Como uma sociedade de economia mista controlada pelo governo, o Banco do Brasil adota um modelo mais modesto. Seus diretores recebem salário fixo, bônus, benefícios e algumas compensações em ações, enquanto os membros do conselho recebem apenas honorários fixos.

Crescimento das remunerações

A previsão de crescimento das remunerações para 2025 reflete a tendência de valorização dos executivos no setor financeiro. A alta remanescente de 16,8% não é pequena, especialmente quando comparada a outras áreas da economia.

Esse crescimento segue em paralelo aos lucros astronômicos que esses bancos continuam a gerar, o que cria uma disparidade de percepções: por um lado, os lucros extraordinários das instituições financeiras, por outro, a disparidade entre o valor que é pago a quem toma as decisões e o valor que é destinado para os trabalhadores.

Em 2024, o total de lucros combinados dos quatro maiores bancos foi de R$ 112,6 bilhões, o que representa um recorde nominal. Embora a fatia destinada à remuneração dos executivos seja uma porcentagem menor do que os dividendos pagos aos acionistas, ela ainda é significativa, o que gera discussões sobre a responsabilidade social das instituições bancárias.

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