aixinho, Yan e Tuleca. Dako, Ceará e Nego de Lídio. A princípio desconhecidos da maioria da população, esses são os apelidos de alguns dos criminosos mais perigosos do Brasil. Nos últimos dois anos, a polícia capturou e entrou em confronto que resultou em morte com dois dos 10 mega-assaltantes mais procurados do país — oito deles seguem foragidos. Destes, três são acusados de participação em um grande assalto em Ciudad Del Leste, no Paraguai, em 2017, quando mais de 40 assaltantes levaram cerca de US$ 12 milhões de uma transportadora de valores.

Atualizada pela última vez em dezembro de 2023, a lista dos mais procurados do Ministério da Justiça e Segurança Pública traz 19 criminosos foragidos, a maioria já condenada a longas penas de prisão. Fora os 10 assaltantes, a lista contempla cinco líderes de facções criminosas e quatro traficantes internacionais de drogas. Em comum, quase todos possuem algum envolvimento com grandes facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) ou o Comando Vermelho (CV) e já passaram pelo sistema prisional, de onde fugiram ou foram legalmente libertados antes de desaparecer.

Neste mês, repercutiu o caso de Luken Cesar Burghi Augusto, de 43 anos, um dos nomes da lista na categoria de mega-assaltantes e um dos criminosos mais procurados do país, considerado pela polícia um dos chefes do PCC nas ruas. Ele foi morto no último dia 9, depois de entrar em confronto com policiais militares, no município de Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Foragido da Justiça, ele estava condenado a 46 anos e 11 meses de prisão.

“Um dos criminosos mais procurados do país entrou em confronto com a Rota”, afirma Guilherme Derrite (Progressistas), secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo, em postagem nas redes sociais logo após o tiroteio. “Infelizmente, o indivíduo optou pelo confronto, atirou nos policiais e não restou outra alternativa a não ser a neutralização”, diz Derrite no vídeo. Segundo o secretário, outro criminoso, chamado Gabriel, com mandado de prisão em aberto, pegou a arma de fogo de Luken e fugiu, mas foi capturado pouco depois.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que a ocorrência é investigada pelas polícias Civil e Militar. Segundo a pasta, as imagens registradas pelas câmeras corporais dos policiais envolvidos na ação foram preservadas e serão analisadas.

O criminoso participou de um mega-assalto a uma empresa de transporte de valores na cidade de Araçatuba (SP), em 2017, desde quando era procurado. A ação envolveu cerca de 30 criminosos com armamentos pesados e resultou na morte de um policial civil e roubo de aproximadamente R$ 8 milhões.

Lunken Burghi Augusto foi o segundo nome dentre os 10 mega-assaltantes na lista do Ministério da Justiça neutralizado em quase dois anos, desde que a relação foi divulgada. Em fevereiro do ano passado, foi preso em Valinhos, no interior de São Paulo, Jakson Oliveira Santos, conhecido como “Dako", de 44 anos, após 20 anos foragido. Ele foi surpreendido em casa por equipes do 1° Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

"Dako" estava foragido desde 2005, quando aproveitou o benefício de uma saída temporária na penitenciária de Casa Branca, no interior de São Paulo — onde cumpria pena por tráfico de drogas — e nunca mais voltou. Ele é acusado de ser um dos mentores dos ataques contra forças policiais em 2006, orquestrados pelo PCC principalmente na capital paulista, com centenas de mortos.

Ele também é acusado de participar de mega-assaltos a bancos nas cidades de Araçatuba (SP) em 2021 e Confresa (MT) em 2023, este último frustrado pela polícia. Fora Lunken e "Dako", ainda há oito dos mega-assaltantes mais perigosos do Brasil à solta.

Confira os perfis dos maiores assaltantes do Brasil procurados pela polícia

  • Marcio do Carmo Pimentel, conhecido como “Yan" 

Conhecido também como "Branco" ou "Gordo", Pimentel é processado por crimes de sequestro e cárcere privado, latrocínio, roubo e associação criminosa. Pratica ataques violentos a bancos, carros-fortes e transportadoras de valores na modalidade “novo cangaço” por todo o país. Possui pelo menos 13 mandados de prisão em aberto nos estados de Goiás, Mato Grosso, Bahia e Minas Gerais. As condenações dele somam 111 anos de prisão.

  • Willian Alves Moscardini, conhecido como “Baixinho" 
  • Moscardini é alvo de buscas no Brasil e em países do Mercosul. De acordo com o Ministério da Justiça, ele enfrenta diversas acusações por assalto, roubo, sequestro e agressões, incluindo participação no assalto à transportadora de valores em Ciudad Del Este, no Paraguai, em 2017, junto com Denílson Moreira Dias e Kaio Bonotto Cavalcante, outros dois foragidos da lista dos mega-assaltantes.

    • Jerry Adriane Gomes da Silva, conhecido como "Nego de Lídio”

    Acusado pela polícia e Ministério Público de ser um dos principais assaltantes de carros-forte do Nordeste, Silva foi preso em 2018 acusado de 25 homicídios. Ele estava foragido da Penitenciária Barreto Campelo, onde cumpria pena de 47 anos, desde dezembro de 2014, e é considerado o autor do primeiro ataque nos moldes do “novo cangaço”, em 2003, na Bahia.

    Cerca de dois anos depois da nova prisão, em 2020, ele fugiu novamente, desta vez da Penitenciária Doutor Ênio Pessoa Guerra, em Limoeiro, e segue foragido até hoje.

    • Albieri Barbosa de Melo, conhecido como “Ceará"
  • Melo é acusado de participar de diversos mega-assaltos em várias cidades do Brasil nos últimos anos, sempre com quadrilhas grandes na modalidade “novo cangaço”, quando uma cidade é interditada e a polícia impedida de agir durante a ação criminosa que domina toda uma localidade de pequeno a médio porte.

    Em 2018, ele foi preso com mais seis comparsas na operação "Sem Fronteiras" em Alagoas, acusado de praticar pelo menos oito grandes assaltos em cidades do estado e também em Pernambuco e Sergipe. Outros três homens morreram em confronto com a polícia. Na ocasião foram apreendidos com o bando 30 quilos de explosivos, além de fuzis, rifles, espingardas, revólveres e pistolas, além de coletes à prova de balas e veículos. Apesar disso, foi solto pouco depois para responder ao processo em liberdade e sumiu.

    • Denilson Moreira Dias 
    • Em 2018, a 4ª Vara Federal de Foz do Iguaçu (PR) condenou oito pessoas pelo assalto seguido de morte que aconteceu abril de 2017, na sede de uma transportadora de valores em Ciudad del Este, no Paraguai. Todos os réus foram condenados a penas superiores a 20 anos de reclusão. Entre eles, Dias, que pegou 34 anos de cadeia.

      Em decorrência do trabalho realizado pelos peritos da PF, que coletaram vestígios biológicos para identificação dos criminosos por meio de exames de DNA, foi possível identificar a participação dos envolvidos, sendo o caso o maior realizado pela PF envolvendo exames de genética forense. Quando foi condenado, porém, Dias já estava foragido da Penitenciária de Piraquara (PR) havia dois anos, desde antes do assalto em questão, e assim segue até hoje. Ele também é procurado pela Interpol.

      • Fábio Augusto Nogueira Fitze

      Fitze é acusado pela Justiça de praticar assaltos com o líder máximo do PCC, Marcos Herbas Camacho, conhecido como Marcola, quando ele ainda estava em liberdade em 1999. Uma quadrilha da qual os dois faziam parte é acusada de roubar cerca de R$ 6 milhões de uma transportadora de valores localizada em Caucaia, naquele ano.

    • Conforme a denúncia do Ministério Público do Ceará (MP-CE), os criminosos utilizaram armamento pesado, como metralhadoras, fuzis e granadas. Fitze nunca foi preso pelo crime e é suspeito de ter praticado outros grandes assaltos depois disso.

      • Kaio Bonotto Cavalcante

      Cavalcante é acusado de também ter participado do assalto à transportadora de valores no Paraguai, em 2017. Segundo o MP-PR, ele também possui participação no assassinato do agente penitenciário federal Alex Belarmino de Souza, de 36 anos, em setembro de 2016, em Cascavel (PR). O agente penitenciário era de Brasília e viajava para dar um curso de tiro na Penitenciária Federal de Catanduvas.

      Segundo as investigações da Polícia Federal, o agente penitenciário federal foi morto em uma emboscada e recebeu 23 tiros. Ainda de acordo com o inquérito aberto para investigar o caso, o agente teve sua morte encomendada por lideranças do PCC presas no sistema penitenciário federal, por se recusar a colaborar com os chefões do crime. Ao todo, 15 pessoas são acusadas pelo crime, e 12 foram condenadas. Bonotto ainda é procurado para ser julgado no caso.

      • Edson Vieira da Silva, conhecido como “Tuleca"
    • Apontado como especialista em roubo a bancos e um dos ladrões mais perigosos do Estado de São Paulo, é o criminoso da lista com menos informações públicas disponíveis. 

      A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos condenados e acusados foragidos da Justiça presentes na lista do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/quem-sao-os-maiores-assaltantes-do-brasil-na-mira-da-policia/

Imagem: Frrepik