Há uma semana, a região de Piracicaba (SP) registrou ataques a três carros-fortes e a uma agência bancária em três cidades diferentes em menos de 24 horas, seguidos pela prisão de dois suspeitos e morte de um terceiro em confronto com a polícia.

De acordo com a polícia, os criminosos usaram fuzis, explosivos e carros de luxo nos ataques. Houve confronto com a polícia, incêndio de veículo e ruas foram bloqueadas durante as ações criminosas.

Em um dos casos, em Piracicaba, também conforme o registro policial, vigilantes de um carro-forte reagiram ao ataque criminoso e os assaltantes fugiram sem levar nada.

Vídeo - Nesta reportagem, entenda como esses vigilantes são formados para atuar nessa profissão de risco e como é o veículo blindado onde transportam altas quantias em dinheiro diariamente.

250 horas de curso

EPTV, afiliada da TV Globo, visitou uma escola de Campinas (SP) que forma vigilantes há 27 anos e é uma das mais tradicionais do estado.

Gerente-administrativo da instituição, Caio César Bucioli explica o período de formação.

 “É um curso de 200 horas. Quando existe a homologação do curso, que ele pode trabalhar como vigilante, aí existe as especializações e uma delas é o transporte de valores. São 50 horas da aula, ele vai ter matérias específicas de atividades de transporte”.

 Do simulador para armas reais

 Além das aulas teóricas, o aluno treina tiros em um simulador virtual. Depois, vai para um treinamento com armas reais como pistola calibre ponto 380.

O equipamento tem uma capacidade maior de munição. Enquanto um revólver pode ter até seis munições no tambor, a pistola chega a 19 no carregador. Isso aumenta a capacidade de reação do vigilante.

O treinamento ainda inclui uso de espingarda calibre 12. A arma tem maior força de impacto.

“Hoje, o que a gente utiliza de melhor em relação ao transporte de valores é o revolver no calibre .38, pistolas no calibre .380 e a espingarda no calibre 12”, reforça Caio.

Na preparação também são ensinadas as técnicas de embarque e desembarque.

Aula de tiro em curso de formação de vigilantes — Foto: Jefferson Souza/ EPTV

Aula de tiro em curso de formação de vigilantes — Foto: Jefferson Souza/ EPTV

 Funções definidas

 Em uma equipe de transporte de valores por carro-forte, cada profissional de segurança tem uma função.

 “Existe o vigilante motorista, que é o responsável pela condução. Ele tem que ter uma habilitação específica para dirigir o carro-forte. Nós temos o vigilante chefe de equipe, ou fiel, que é o responsável pela condução do numerário. E nós temos os vigilantes de escolta, que é responsável pela cobertura de operação”, elenca o gerente administrativo.

 Como é o impacto desse risco na vida dos vigilantes?

 A EPTV entrevistou um profissional que atua há 16 anos na área que comentou sobre os riscos frequentes.

 “É um funcionário que 24 horas tem que estar atento. Sabemos que não há um ataque só em ruas, em asfalto, em descida, em bancos, mas também em sequestro, que aconteceu há muitos anos atrás. Entramos para trabalhar na área sabendo do risco que temos. O que temos que fazer é se preparar psicologicamente bem. Isso foi o que escolhi para mim, isso que eu quero dar continuidade. E luta, até quando Deus permitir".

 Treinamento prático em curso para vigilantes — Foto: Jefferson Souza/ EPTV

Treinamento prático em curso para vigilantes — Foto: Jefferson Souza/ EPTV

Como é um carro-forte 

Os carros-fortes são preparados para suportarem o impactos de disparos de arma de grosso calibre, que é um dos principais modus operandis de quadrilhas de assaltantes que abordam esses veículos.

A cabine é blindada com várias camadas de aço. O vidro também é reforçado. Mesmo com tiros de fuzil 762 e pistola 9 milímetros, armas que são de uso restrito, o projétil não chega no interior do veículo, onde ficam os vigilantes.

O carro-forte é um caminhão de mais de oito toneladas e tem quatro lugares. Dentro dele, há um cofre na parte traseira.

Depois que o dinheiro é colocado dentro, os vigilantes não têm mais acesso. Só é aberto após uma sequência de senhas e autorização da empresa responsável. Cada empresa de valores investe em tecnologias para aumentar a segurança e que não são reveladas.

Veja como é um carro-forte por dentro — Foto: Reprodução/ EPTV

Veja como é um carro-forte por dentro — Foto: Reprodução/ EPTV

 
SSP diz priorizar combate a crime organizado 

A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que o combate ao crime organizado é prioridade da atual gestão da SSP. Comentou ainda que, além do policiamento preventivo e ostensivo e das ações investigativas, as polícias contam com o trabalho de setores de inteligência.

Ainda de acordo com a SSP, no primeiro bimestre deste ano, ações integradas entre as polícias na região do Departamento de Polícia Judiciária do Interior 9, com sede em Piracicaba, possibilitaram a apreensão de 157 armas de fogo ilegais, aumento de 6,8% na comparação ao mesmo período de 2023. E que o número de infratores presos e apreendidos também subiu.

Em janeiro e fevereiro de 2024, foram 2.934 e apreensões, 571 a mais que no ano anterior. Sobre o andamento das investigações em relação aos ataques na região, a SSP não respondeu.

Alunos durante aula prática do curso de vigilantes — Foto: Jefferson Souza/ EPTV

Alunos durante aula prática do curso de vigilantes — Foto: Jefferson Souza/ EPTV

 A seguir, entenda a linha cronológica dos ataques na região de Piracicaba no dia 8 de abril e da resposta da polícia a eles: