Nascidos em Buritirama, cidade baiana próxima à divisa com o Piauí, os irmãos Fleques Pereira Lacerda, o Pequeno, e Delvane Pereira Lacerda, o Pantera, de 41 anos, nunca se largaram.

Ambos cresceram juntos, desde a infância pobre em Avelino Lopes, no Piauí, até a vida adulta abastada, proporcionada pelo crime organizado, com negócios em São Paulo e no nordeste.

Caçula da dupla, Pequeno foi executado em uma barbearia de Osasco, Grande São Paulo, em 2 de dezembro do ano passado, quanto estava com 39 anos de idade e milhões de reais à disposição  oriundos de ações criminosas, principalmente da venda de drogas e roubos a banco.

Antes disso, ele e Pantera tornaram-se membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e, juntos, criaram uma célula especializada em roubos na modalidade “tomadas de cidades”, na qual municípios são literalmente feitos reféns, durante mega assaltos do “Novo Cangaço”.

Os irmão também mantiveram ativa a principal fonte de renda da maior facção do Brasil, inclusive expandindo seus negócios com o tráfico de drogas para o Piauí.

Sem estudo e com passagem

Ambos estudaram somente até o ensino fundamental, quando se mudaram para São Paulo, no início dos anos 2000. Seis anos depois, foram presos por roubo, em casos diferentes. Foram condenados e presos.

Atrás das grades, ingressaram no PCC, ajudando a facção a estender seus tentáculos pelo país. 

Ambos cresceram junto com a organização, se aperfeiçoando no esquema empresarial para vender drogas, instituído por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, após ele assumir a liderança máxima do PCC, em 2002.

Pantera e Pequeno só se distanciaram quando estiveram atrás das grades, ou em liberdade  conquistada inclusive com fugas.

O assassinato de Pequeno, resultante da disputa por território com outra célula, também do PCC, no Piauí, revoltou Pantera. Ele promoveu uma carnificina para vingar o irmão, provocando um efeito bola de neve.

Alvos da PF

Uma investigação da Polícia Federal (PF), obtida pelo Metrópoles, mostra que Pequeno e Pantera lideraram, à distância, uma célula do PCC que organizou e financiou um mega assalto frustrado a uma empresa de transporte de valores no Mato Grosso, em abril do ano passado. Na ocasião, 18 membros do bando foram mortos pela polícia.

Além da ação fracassada na cidade de Confresa (MT), Pequeno estaria envolvido em outros três casos de “domínios de cidade”, um deles em Criciúma (SC), em 2020, outro em Araçatuba, no interior de São Paulo, um ano depois e, em 2022, na paranaense Guarapuava.

Ele foi assassinado em dezembro de 2023 em um salão de beleza em Osasco, Grande São Paulo, cidade onde estava foragido desde 2018. Foram identificadas em seu corpo perfurações provocadas por munição de pistola.

Antes da morte de Pequeno, ele recebia R$ 80 mil mensais, enviados por seu primo, Vagner dos Santos Silva, integrante do setor financeiro do núcleo de cangaceiros. Também eram contemplados com depósitos a sogra de Pequeno, além da esposa e cunhado, Fabiana Rocha de Souza e Fabio Rocha Silva de Souza, em nome do qual um apartamento em Osasco chegou a ser registrado.

Pantera, como mostram as investigações da PF, coordenava os homicídios de rivais, além do tráfico de armas e drogas, com o apoio da esposa, Elaine Souza Garcia, de 34 anos, mais conhecida como Patroa. Após a morte de Pequeno, Pantera exigiu que a viúva e o irmão dela entregassem armas, drogas, dinheiro e veículos pertencentes ao parente assassinado.

Em uma conversa na véspera do Natal de 2023, interceptada pela polícia, Pantera e Patroa falam sobre os bens deixados por Pequeno. Na ocasião, armas e munições já haviam sido restituídas ao casal, que estava atrás do dinheiro e dos veículos deixados pelo antigo líder do bando.

Arma na geladeira

Pantera foi preso em flagrante por policiais militares em Itapeva, interior de São Paulo, em 20 de maio deste ano, um dia antes de a PF iniciar o cumprimento de mandados de busca e apreensão, resultantes da investigação.

A PM foi chamada no endereço do chefão do PCC para checar uma suposta denúncia de cárcere privado, feita por um vizinho. Chegando no local, Pantera deixou os policiais entrarem na casa, na qual a denúncia foi desmentida.

O criminoso acabou preso após os PMs encontrarem uma pistola calibre 380 e munições, dentro da geladeira. Após o flagrante, ele alegou manter a arma no local para garantir a própria segurança, “visto que seu irmão tinha sido assassinado”.

Com a quebra do sigilo telemático de Pequeno, após sua execução, a PF descobriu que ele negociava armas com mais de um Colecionador, Atirador Esportivo e Caçador (CAC).

Um dos fornecedores identificados é Otávio Alex Sandro Teodoro de Magalhães, o Terrorista, que vendeu armas e munições para Pequeno e Pantera. O CAC também treinou Pantera e Patroa no manuseio de armas de grosso calibre, usadas em guerras.

Prisões

Pantera, Patroa e Terrorista foram presos na última terça-feira (10/9), durante a segunda fase da Operação Baal, deflagrada pela PF e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Além do casal e do CAC, foram presos durante a ação conjunta os integrante do PCC Jakson Oliveira Santos, o Dako, e Diogo Ernesto Nascimento Santos, que atuava no núcleo financeiro da facção e, também, nas execuções de inimigos.

Metrópoles busca a defesa dos acusados. O espaço está aberto a manifestações.

No total, 18 suspeitos foram denunciados pelo MPSP desde o início do ano. Quatro CACs foram presos apontados como fornecedores de armas para a facção.

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Fonte: Metropoles