Uma operação conjunta do governo federal, Ministério Público e Defensoria Pública da União resgatou, no mês de agosto, mais de 500 trabalhadores em situação semelhante à escravidão.

As mãos de quem, há dez anos, trabalha em uma carvoaria em Itapirapuã, no interior de Goiás. Uma jornada de nove horas de trabalho, sem descanso, das 7h às 16h. Sem carteira assinada, sem direitos. Se sofresse um acidente de trabalho...

 “Nunca pensei não. Deus é muito bom. Deus olha para nós”, diz um trabalhador. 

Os trabalhadores viviam em uma casa de cimento, sem forro, em meio a sujeira. O banheiro, em condições precárias, era dividido por quatro pessoas. Comida? Cozinhavam em panelas enferrujadas, imundas. Isso quando havia o que cozinhar - como fica claro em uma conversa. 

Agente: “Que horas você comeu?”
Trabalhador: “Era 5h30”.
Agente: “Comeu o quê? Um lanche?”
Trabalhador: “Eu acho que um café”.
Agente: “E o almoço?’
Trabalhador: “Não tinha”.
Agente: “Não almoçou ainda?”
Trabalhador: “Não”.
Agente: “Você não está com fome?”
Trabalhador: “Sim, mas...”
Agente: “Mas não tem comida?”
Trabalhador: “Não”.

Água? só correndo o risco de levar um choque: "Para você ligar a bomba, você pega aqui o cabo e aí ele pega. Aí você fica puxando, né? Encheu, você vai e desliga", explica um trabalhador regatada. O agente pergunta: "E se der um choque? Como faz?". E ele responde: "Uai, aí é na misericórdia de Deus, né?".

Casos como esses, que seguem acontecendo em 2023, motivaram uma operação conjunta do Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.

A operação, realizada em agosto, resgatou 532 trabalhadores em situação semelhante à escravidão.

Foram feitos resgates em 15 estados. O maior número de casos ocorreu em Minas Gerais, seguido de Goiás, São Paulo, Piauí e Maranhão.

A maior parte dos resgates ocorreu na área rural, em locais de cultivo de café e alho, por exemplo. Na área urbana, foram encontrados casos de trabalho semelhante à escravidão em restaurantes, oficinas de costura e construção civil.

Desde o início de 2023, já são mais de 2 mil resgates. O que confirma a necessidade de novas operações até uma solução definitiva: o fim do trabalho em condições semelhantes à escravidão.

 “Não é possível que a gente continue tendo em instituições, empresas e pessoas físicas que coloque o ser humano em trabalho análogo à escravidão. Isso é uma agressão aos direitos humanos, é inaceitável. Precisamos dizer chega, basta, não é possível”, afirma Luiz Marinho, ministro do Trabalho.

Fonte: g1.globo