Uma investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro que durou dois anos descobriu uma espécie de escola preparatória com táticas de guerrilha na Maré, um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro, onde moram mais de 140 mil pessoas.
Lá vivem pais, mães, famílias, trabalhadores, estudantes e crianças. São as maiores vítimas dessa guerra.
O Fantástico obteve acesso, com exclusividade, ao material dessa investigação. Segundo a polícia, é o maior levantamento já feito sobre a atuação de três grupos criminosos, de traficantes e milicianos, que disputam o controle de territórios, de negócios lucrativos e de vidas.
"Eles matam mesmo. Se eles não forem com a cara deles, eles matam. Para botar uma barraca na feira tem que pagar. Se você quiser vender um salgadinho na rua, tem que pagar. Se não pagar, eles tomam, entendeu? Tudo lá é sobre isso", conta um morador da Maré.
Foram centenas de horas de imagens usando drones que revelaram uma amostra do desafio da segurança pública no Rio de Janeiro e do terror diário enfrentado pelos moradores, seja dia ou noite.
Treinamento do crime
Os exercícios que preparam traficantes para a guerra acontecem num lugar que poderia ser um centro de lazer para a comunidade. No entanto, a quadra de futebol e a piscina - de uso exclusivo dos criminosos - servem como campo de treinamento. Tudo isso ao lado de uma creche e cinco escolas.
"O momento que eles ficam próximos das escolas, eles ficam mais protegidos, já que a polícia vai ter maior dificuldade e até certo impedimento de atuar nessas regiões. A polícia não quer que nenhum inocente, principalmente criança, sofra um mal causado por esses traficantes", relata o delegado Hilton Alonson.
Pelas imagens dos drones dá para ver que o local de treinamento é ainda mais estratégico, ao lado da Baía de Guanabara e a poucos metros das três principais vias expressas que cortam a cidade: avenida Brasil, Linha Amarela e Linha Vermelha. Tudo isso no caminho para o principal aeroporto do Rio, para uma universidade federal e onde também há um batalhão da Polícia Militar, instalado exatamente 20 anos atrás.
Fonte: Fantástico/G1