O IBGE detectou mais um efeito colateral da pandemia no mercado de trabalho. Ela reduziu aos menores níveis a diferença de renda entre os trabalhadores com carteira assinada e os informais.

O caminho até o novo emprego demorou seis meses. Nessa espera, Rafael queimou parte das economias, mas fazia questão de ter a estabilidade da carteira de trabalho assinada quando fosse contratado de novo.

“Pelos benefícios, né? Pela seguridade social, por toda questão de INSS, do suporte que você tem caso tenha algum problema de saúde, isso é muito importante”, explica. 

Depois de ser demitido de um escritório em 2019, Diego virou entregador.“Antigamente era padrão CLT: de 8h até 17h, 18h, de segunda a sexta. Hoje eu trabalho de segunda a segunda, nessa faixa de horário: de 8h até 20h, 21h”, relata.

 Mesmo com a carga horária exaustiva e sem direitos trabalhistas como férias e 13° salário, ele diz que esse foi o único jeito de conseguir um pouco mais de dinheiro na mão todo mês.

 “Se você botar na ponta do lápis, R$ 1.000, R$ 1.200, a mais do que eu ganhava antes é bem relevante. Apesar de ter uma inconstância. Porque se eu não trabalhar, não recebo”, pondera.

Rafael trabalha de segunda a sexta; três vezes na semana, o expediente é em casa. Tem praticamente o mesmo ganho do último trabalho, mas não o mesmo poder de compra, porque desde o antigo emprego, os salários não acompanham a inflação.

 “Isso é uma realidade para todo mundo, não sou só eu. Mas a gente tenta sempre ir equilibrando, compensando de um lado, deixando de fazer uma coisinha ali ou outra e buscando fazer com que o salário renda”, diz. 

A perda de renda dos brasileiros mostra um mercado de trabalho fragilizado - com ofertas de vagas, mas salários menores. Esse achatamento tem feito com que a renda dos trabalhadores formais esteja mais próxima dos ganhos de quem trabalha na informalidade.

  “É uma boa notícia de saber que as pessoas estão voltando a entrar no mercado de trabalho, mas é uma má notícia porque a qualidade do emprego e esse salário que as pessoas estão recebendo ainda não são tão favoráveis”, afirma o economista da FGV Rodolpho Tobler.

 A renda média do trabalhador formal ficou em R$ 2.578 no trimestre encerrado em agosto, 4,2% abaixo do período pré-pandemia. Já o brasileiro sem carteira ficou com R$ 1.791, uma leve alta de 1,2% na comparação com o trimestre encerrado em fevereiro de 2020. 

A série histórica do IBGE mostra que a maior diferença entre os salários dos formais e informais foi no último trimestre de 2017. Em valores corrigidos, quem tinha carteira ganhava, em média, R$ 1.174 reais a mais. No trimestre encerrado em fevereiro de 2020, essa diferença era de R$ 920. Agora, no trimestre encerrado em agosto, a diferença está em menos de R$ 790.

 “Quem vai ditar o ritmo de recuperação é o ritmo econômico. Então, o que a gente vê é uma necessidade de um crescimento econômico mais forte, para a formalidade voltar a crescer e o rendimento também junto nessa mesma linha”, destaca economista.

 Matéria na ìntegra - Vídeo   Fonte: g1.globo