A Polícia Civil diz ter descoberto que os fuzis AK-47 usados no mega-assalto à empresa de transporte de valores Prosegur, em Ribeirão Preto (SP), há três meses, entraram no país pela Venezuela. Ao todo, 20 fuzis e duas metralhadoras ponto 50 já foram apreendidos.

Diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter-3), o delegado João Osinski Junior diz que a investigação em Ribeirão foi a que mais avançou em relação aos casos semelhantes em Campinas (SP) e Santos (SP). Até agora, seis foram presos.

“Temos várias pessoas identificadas. O mais difícil é colocar a pessoa na cena do crime. Então, as armas que foram apreendidas estão passando por exame de balística para comprovar que foram utilizadas naquele assalto, e que as pessoas estavam com essas armas”, explica.

A Polícia Civil também conseguiu recuperar R$ 200 mil dos R$ 51,2 milhões que foram roubados na madrugada de 5 de julho. Para Osinski Junior, encontrar o restante do dinheiro levado pela quadrilha é uma das partes mais difíceis da investigação.

“O crime organizado não usa do sistema financeiro. O crime organizado mantém o dinheiro guardado em espécie, em casa, chácara, apartamento, ou mesmo enterrado. Por isso, é difícil a polícia localizar esse dinheiro”, afirma.

Em entrevista anterior, Osinski Junior já havia dito que o dinheiro roubado está escondido em espécie, desde a data do crime. A polícia solicitou à Justiça o bloqueio dos bens de todos os presos em favor da União, com o objetivo de recuperar parte do prejuízo.

Grupo terrorista

Ainda segundo o delegado, a polícia também descobriu que a quadrilha responsável pelo mega-assalto é formada por grupos menores, que não se conhecem e nem se comunicam. Cada um deles ficou responsável por um tipo de atuação.

“Uma célula é recrutada em determinada região e não sabe qual atividade, nem conhece os membros da outra célula. Uma não tem contato com a outra. Então, isso dificulta, e muito, a identificação do chefe da organização criminosa”, diz.

O delegado afirma também que os homens presos até agora foram encarregados de levantar informações sobre a rotina da empresa de transporte de valores, assim como preparar as bases de apoio: as chácaras onde os suspeitos ficaram hospedados antes do ataque.

“Esse tipo de quadrilha age de forma fracionada, ou seja, ela funciona como em forma de células, como se fossem células terroristas. Nosso setor de inteligência conseguiu cruzar as investigações, e logicamente, dar um grande golpe na quadrilha”, afirma.

Prisões

Até agora, seis homens foram presos. Os dois primeiros foram achados em um resort em Rio Quente (GO) em 15 de julho. Com eles, a polícia apreendeu R$ 160 mil em dinheiro. Outro homem foi preso no mesmo dia, em Ribeirão Preto, com R$ 34 mil e armas.

Os suspeitos eram vigilantes da Protege e tinham informações privilegiadas sobre a rotina de trabalho nas empresas de segurança e transporte de valores. Na sequência, as investigações identificaram mais dois suspeitos, dos quais um foi preso e outro segue foragido.

Em 16 de agosto, mais dois foram presos em São Paulo e Atibaia (SP), apontados como os responsáveis pela frota de carros usada no ataque e pelos documentos falsificados usados pela quadrilha.

A polícia procura ainda por Diego Moura Capistrano, motorista do caminhão que transportou os R$ 51,2 milhões roubados da empresa de valores. Dono de uma transportadora em Viradouro (SP), ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, mas segue foragido.

O crime

A ação, na madrugada de 5 de julho, durou cerca de uma hora. A PM estima que 40 homens tenham explodido o prédio da Prosegur e usado 15 veículos – três foram queimados e outros sete abandonados em um canavial. Vizinhos da empresa ficaram no meio do fogo cruzado.

Na Rodovia Anhanguera (SP-330), um policial rodoviário de 43 anos foi morto com um tiro na cabeça, durante a fuga da quadrilha. Um morador de rua, de 38 anos, que teria sido usado como escudo, também morreu após o assalto.

De acordo com a PM, o grupo estava fortemente armado e tinha desde pistolas a fuzis 556, 762 e ponto 50, munição capaz de derrubar aviões. Dinamite foi usada para explodir o prédio e acessar o cofre.

Osinski Junior disse que o grupo estava preparado para enfrentar um batalhão. Este foi o terceiro crime do mesmo tipo no Estado de São Paulo só em 2016, o que leva a polícia a suspeitar que a mesma quadrilha esteja coordenando os ataques.

Em nota, a Prosegur voltou a dizer que é a principal vítima do ataque, que é fiscalizada pelo Ministério da Justiça por meio da Polícia Federal, e que "cumpre à risca as normas exigidas pela lei 7.102/1983 e portaria 3.233/12 em todas as suas bases operacionais".

Fonte: G1