Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em março, surpreenderam positivamente os economistas.
Ao todo, foram criadas 195.171 vagas com carteira assinada, resultado muito acima das 97,5 mil vagas estimadas por consultorias e instituições financeiras.
De acordo com economistas ouvidos pelo Valor, os resultados do Caged dos dois últimos meses colocam as projeções para o ano sob revisão.
“Foi a segunda surpresa positiva com Caged. O mercado formal de trabalho, de fato, está apresentando resiliência neste começo de ano, apesar da desaceleração da atividade econômica”, comenta o economista da Tendências Lucas Assis.
No entanto, os resultados não significam que a tendência de desaceleração no ritmo de criação de vagas será revertida.
“Por mais que tenha apresentado um desempenho positivo no primeiro trimestre, mantemos a expectativa de perda de ímpeto das contratações formais pelos empregadores até o fim de 2023 em meio ao arrefecimento esperado para a atividade econômica”, explica Assis.
Abertura de vagas
Em março, houve abertura de vagas em quatro dos cinco setores da economia em março. A indústria geral teve saldo líquido positivo de 20.984 vagas abertas, construção abriu 33.641 novos empregos, comércio, 18.555, e serviços liderou mais uma vez com a criação de 122.323 postos de trabalho com carteira assinada. Somente a agricultura ficou no negativo ao fechar 332 vagas.
Para o economista da Tendências, embora serviços tenha gerado a maior parte das vagas, a maior surpresa do mês foi o setor de construção civil. “Houve uma abertura significativa no segmento de obras de infraestrutura e serviços especializados em construção. Isso pode estar associado à retomada do Minha Casa, Minha Vida e à recuperação de rodovias, por exemplo", aponta Assis.
A explicação vai de encontro com a fala do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho. Em entrevista coletiva, ele revelou que o governo ainda não esperava o impacto positivo da retomada do Minha Casa, Minha Vida e de obras em rodovias já em março e apontou que espera o mesmo efeito nos dados do Caged nos próximos meses. Citou como exemplo cerca de 4 mil escolas e creches que estão pela metade.
O ministro também voltou a reclamar da taxa de juros mantida pelo Banco Central, atualmente em 13,75% ao ano, fator que os economistas apontam como uma justificativa importante para as manutenções das projeções que indicam perda de ímpeto do mercado de trabalho ao longo do ano.
“Ainda esperamos que a criação de empregos desacelere à frente, especialmente considerando os efeitos de uma postura mais rígida da política monetária", escreveu em relatório o economista do Santander, Gabriel Couto.
A visão é compartilhada por analistas do banco Original. “Olhando à frente, apesar desta surpresa positiva, alguns fatores devem se traduzir em uma perda de ímpeto do mercado de trabalho. Uma retomada da taxa de participação [da força de trabalho], a perspectiva de desaceleração da atividade econômica, especialmente a partir do segundo trimestre e o declínio das forças que impulsionaram o setor de serviços no pós-pandemia” afirmam o economista-chefe Marco Caruso e Igor Cadilhac.
No entanto, segundo eles, os dados mostram que a desaceleração será mais lenta, aumentando inclusive os desafios do combate à inflação”.
Com informações do Valor Econômico