A bancária Bárbara Siqueira, de 32 anos, confessa estar receosa com o futuro da profissão. Já são dez anos atuando na área, que ela afirma gostar. “Tenho facilidade com números e gosto de atender o público. Mas cada vez atendemos menos gente presencialmente. As pessoas têm aderido muito bem ao internet banking, o que é importante. Mas, quanto a mim, assusta. Preciso pensar em outra coisa para fazer no futuro”, disse.
De fato, dos 83 milhões de postos de trabalho que podem ser eliminados mundialmente em cinco anos, pelo menos 26 milhões deles terão como motivação principal a digitalização e a automação de processos, conforme o estudo “O Futuro do Trabalho 2023”, do Fórum Econômico Mundial.
“É um desafio para a sociedade, pois, do ponto de vista de uma empresa, o foco é otimizar e reduzir custos. Então tudo o que pode ser automatizado será”, disse Rafael Franco, especialista em tecnologia e CEO da Alphacode, empresa de soluções para mobile.
Apesar disso, a eliminação de funções não ocorrerá de um dia para o outro, o que permitirá que as pessoas se adaptem, assim como fizeram os atendentes de locadoras de VHS, uma década atrás, que foram percebendo o movimento do mercado e migrando para outras áreas.
“Não é que as pessoas não serão mais necessárias. Elas se adaptarão. Hoje vemos idosos usando QR Code para pagar contas. Eles se adaptaram”, analisa o coordenador dos cursos de gestão e negócios do Uni-BH, Felipe Gouvêa Pena.
A adaptação passa por aprender novas habilidades. É o caso do motorista de ônibus coletivo Antônio Edinilson Lopes, de 42 anos, que trabalhou durante um ano e meio como cobrador. Ele conta que percebeu que a empresa estava demitindo os agentes de bordo e procurou se qualificar.
“Fiz o curso no Sest Senat e virei motorista. Já são três anos nessa nova atividade. Estou satisfeito e ganhando mais”, relatou o homem, que mora na vila Acaba-Mundo, na região Centro-Sul de BH. O Sest Senat qualifica cobradores que querem ser motoristas de ônibus. Saiba mais em www.sestsenat.org.br.
Cobrador. Em BH, a Lei 10.526 exige a presença do agente de bordo em todos as linhas – com exceção do Move, dos veículos que circulam à noite (das 20h30 às 5h59) e aos domingos e feriados. Em março, foi sancionada a Lei 11.459, que automatiza ainda mais o serviço ao permitir o pagamento por aproximação (cartões de débito e crédito) nos ônibus. A PBH tem até junho para apresentar um projeto-piloto do novo sistema.
Habilidades já são testadas atualmente
O relatório “Futuro do Trabalho 2023” propõe quatro habilidades mais esperadas para os próximos anos: Inteligência Artificial (IA) e “big data” (conjuntos de dados muito grandes); pensamento criativo; resiliência (capacidade de se adaptar às mudanças ou à má sorte), flexibilidade e agilidade; e pensamento analítico.
Muitas dessas características já estão em muitos trabalhadores, na análise de Jailton Souza, professor de psicologia do trabalho da faculdade Estácio de Belo Horizonte.
“Não são termos do futuro, e sim do presente. Um motociclista de app, por exemplo, tem muitos deles, pois os adquire na prática. Se um pedido está atrasado, ele avalia, em segundos, se deve aceitar ou recusar a entrega e leva em conta para a decisão diversos fatores, como a distância, o valor da corrida, os argumentos que conseguirá dar ao cliente insatisfeito, uma possível má avaliação no app etc.”, disse, completando que a tecnologia está, ainda, presente na comunicação automatizada que o trabalhador mantém com o app para trabalhar. Ou seja, via IA.
Perfil e garra valem mais que currículo
Na startup Amplify, voltada para aceleração de produtos digitais, 30 pessoas foram contratadas no início deste ano, em BH – algumas delas sem o currículo “ideal”.
“Se tinha alguém que consideramos capaz de desenvolver habilidades, ele foi contratado. O currículo não importa tanto, e sim o perfil empreendedor e a vontade de fazer acontecer”, afirmou Vítor Zucher, diretor executivo da firma.
Esse desejo, segundo a especialista em gestão de negócios Cilene Noman, faz a diferença. “A iniciativa própria é um dos grandes diferenciais de quem quer sair do lugar”, disse.
Desemprego. A taxa subiu de 7,9% para 8,8% no primeiro trimestre deste ano no país. É o menor índice para o período desde 2015, segundo o IBGE.
Fonte: OTEMPO
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