Em 2024, mais de 440 mil trabalhadores brasileiros se afastaram de suas funções por transtornos mentais e comportamentais, segundo dados do Ministério da Previdência Social. O número é mais que o dobro do registrado em 2014 e representa aumento de 67% em relação a 2023. Os transtornos de ansiedade lideram os registros, com 141 mil casos, seguidos de episódios depressivos (113 mil), depressão recorrente, transtorno bipolar e dependência de substâncias.
Para Danilo Suassuna, doutor em Psicologia, e diretor do Instituto Suassuna, o cenário exige ação imediata. “Os dados mostram que o sofrimento mental está se tornando um dos principais fatores de afastamento laboral no país. É preciso compreender que, assim como qualquer outra condição de saúde, os transtornos mentais requerem atenção precoce e ações estruturadas de suporte”, afirma.
Ele ainda aponta que sobrecarga, insegurança no emprego, pressão por metas e dificuldade de conciliar vida pessoal e profissional estão entre os fatores que contribuem para o agravamento dos quadros. “A pandemia deixou marcas significativas, acelerou o surgimento de síndromes como o burnout e expôs fragilidades na forma como empresas e instituições lidam com a saúde mental”, acrescenta Suassuna
Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, para cada dólar investido em programas de promoção da saúde mental, há retorno estimado de quatro dólares em produtividade. A OMS calcula que a depressão e a ansiedade custam à economia global cerca de US$1 trilhão por ano em perda de produtividade. No Brasil, segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária e Saúde no Trabalho, os afastamentos por transtornos mentais já figuram entre as principais causas de concessão de auxílio-doença, superando, em alguns setores, problemas osteomusculares.
Para reduzir afastamentos, Suassuna recomenda que empresas implantem programas de apoio psicológico, capacitem líderes para identificar sinais de sofrimento, flexibilizar jornadas, incentivem pausas e férias efetivas e mapeiem riscos psicossociais. Aos trabalhadores, o especialista sugere estabelecer limites claros entre trabalho e descanso, manter hábitos saudáveis, buscar ajuda profissional ao perceber sintomas, preservar vínculos sociais e adotar técnicas de gestão do estresse.
Para empresas
• Implantar programas de apoio psicológico, ou seja oferecer atendimento presencial ou on-line, com psicólogos credenciados e canais de acolhimento sigilosos.
• Capacitar líderes, neste caso, significa treinar gestores para reconhecer sinais de estresse, burnout e sobrecarga em suas equipes.
• Flexibilizar jornadas, permitindo ajustes de horário ou modelo híbrido, favorecendo o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. • Promover pausas e descanso, para incentivar intervalos regulares e férias efetivas, sem cobranças durante o período de afastamento.
• Mapear riscos psicossociais e dessa forma, avaliar, por meio de pesquisas internas e entrevistas, fatores que aumentam o risco de adoecimento mental. Para trabalhadores
• Estabelecer limites claros, ao definir horários para início e fim do expediente, evita-se sobrecarga e invasão do tempo de descanso.
• Manter hábitos saudáveis como priorizar um sono de qualidade, alimentação equilibrada e prática regular de atividade física.
• Buscar suporte profissional cedo, e ao notar sinais como insônia persistente, irritabilidade ou desmotivação, procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica.
• Preservar vínculos sociais, ou seja manter contato com familiares, amigos e grupos de apoio, fortalecendo a rede de proteção emocional.
• Praticar técnicas de gestão do estresse como meditação, respiração guiada e pausas conscientes podem ajudar a reduzir a tensão diária.